16 de maio de 2011

Sentido de Vida # 10


   Kevin: Menti quando disse que ontem a mensagem era da Mariana, quando disse que as mensagens de hoje eram coisas insignificantes. Menti quando te disse que levava as minhas promessas até ao fim. Jurei que ia vencer o vício da droga, jurei e falhei. Satisfeita?
   Eu: Satisfeita? Ainda me falas como se fosse algo superficial, mas isto pode trazer-te muitas consequências, não só a ti, como a todos os que te adoram, como a mim. Tu sabes disso.
   Kevin: Sim, eu sei.
   Stefanie: Tu não estás minimamente interessado em saber pois não. Tu não queres saber da cura, e mais, não queres saber de mim, nem de nós.
   Kevin baixou a cabeça, já não estava a aguentar com tanto julgamento, tanta era a vergonha de não conseguir superar o seu próprio vício.
   Kevin: Desculpa Stefanie, não é isto que eu quero, que não quero ser um drogado, eu não quero ser dependente disto.
   Eu: Já o és, que se pode fazer agora?
   Levantei-me e corri, fugi dali, não podia ouvir mais aquilo, não o podia ouvir falar como se nada afectasse ninguém, como se isto fosse apenas um problema fácil de resolver.
(…)
   Cheguei a casa, e bati a porta de entrada com força, que criou um estrondo em todo o prédio. Escorreguei encostada à porta até alcançar o chão e as lágrimas não paravam de escorrer o meu rosto « Não aguento mais, mais uma vez não, Chega!”.
   Parei um pouco. Calei por segundos as minhas lágrimas e soluços de tristeza. A casa estava silenciosa. Ninguém ainda estava ali, ainda ninguém tinha ouvido a minha dor. Ainda não tinha ali o meu irmão a levantar-me. Senti-me insegura, já ninguém estava ali a segurar-me na palma da sua mão.
   Da porta entreaberta da cozinha, via um bilhete cor-de-rosa colado na porta do frigorífico. Fui ver o que estava escrito, limpando as últimas lágrimas que estavam no meu rosto: « Eu e o pai fomos tratar de um negócio da fábrica. O almoço está no forno, só precisam de aquecer. Eu e o pai não almoçamos. Bom apetite meu queridos. Mãe.»
   Estava só naquela imensa casa. Deitei-me no sofá, as ideias na minha cabeça precisavam de ser esclarecidas, mas a cada minuto que passava ficavam mais dispersas e confusas.
   Palavras não me saíam da cabeça, frases ficaram memorizadas:
“Menti quando te disse que levava as minhas promessas até ao fim. Jurei que ia vencer o vício da droga, jurei, e falhei. Satisfeita?”
    Já não tinha objectivos, já não tinha nada a me dedicar, ele já não se interessava, ele desistiu. Precisava de me refugiar em algo, precisava de esquecer, precisava de tentar tornar-me forte, por um minuto que fosse.
   As horas passavam, não tinha fome, não tinha sede, não tinha vontade de sair daquele sofá. Eu tinha de parar com aquilo, tinha de tomar uma atitude, não podia chorar mais, não queria pensar mais, não ia voltar a desesperar. Levantei-me e percorri a casa toda. Abri as portas de todos os compartimentos daquele grande apartamento. Nenhum me cativava a sorrir. Voltei à sala, entrei no mini-bar que o meu pai decora todos os fins-de-semana com as garrafas oferecidas pelos amigos, e colegas.
   Estava lá uma garrafa brilhante e alaranjada em cima da prateleira de vidro. Lá tinha inscrito “Whisky”, já tinha provado, já tinha bebido muito, muitas vezes. Inconscientemente, e sem noção de qualquer consequência peguei na garrafa, e abri-a, peguei num copo, e deitei um pouco, como um início. Já nem uma lágrima me caia do rosto nem nenhum pequeno soluço era libertado, já não baixava a cabeça, e cada momento em que me lembrava do nosso diálogo, soltava uma gargalhada. Depois de vários centilitros, já estava fora de mim.


Continua...

6 comentários:

Joana Rebelo disse...

Adorei, mesmo! Vou seguir, segues também?

silvia disse...

Gostei :)
Espero continuação *

inês disse...

continuo a adorar!

- andreia pereira . disse...

é lá , beber para esquecer ? hahaha , é assim mesmo :)

Rita disse...

caíste no vicio, tal como ele. o:

Ana disse...

adoro o teu blogge esta lindo estou a seguir beijos :b