A passos leves entrei no meu quarto,
tentei conter os suspiros, as lágrimas e alguns soluços para ninguém dar pela
minha presença. Deitei-me na cama, e custou muito adormecer, não conseguia. Dei
voltas na cama, mas nada estava bem, nada me corria como eu esperava, mas
ninguém me mandou ser parva, estava enrolada de mágoa até ao pescoço e só
precisava de explodir. «O Rafael nunca me deu esperanças de algo mais, ou deu?
Não seria justo para mim estar naquela situação? Ou até seria?» As lágrimas não
paravam de escorrer pela minha cara, eu apenas pedia uma explicação, e um pouco
de compreensão. Se pudesse, podiam dar-me um pouco de felicidade.
Entre essas lágrimas adormeci, já
passavam das cinco da manhã.
(…)
O meu pai chamava-me da sala, eram
horas do almoço.
- Bom dia. – Disse ainda ensonada.
- Bom dia, não te ia chamar, sabemos
que chegaste tarde.
- Desculpem ter chegado aquelas
horas.
- Mas não vamos falar sobre isso, se
eu te chamei, é porque tenho uma coisa muito séria para te dizer. Para vos
dizer a todas. – Fez uma pausa. – Nós vamos mudar de vida. – A Letícia está no
Porto. – Ficamos todas a olhar para o meu pai, e com um pouco de medo do que
ele ia dizer. – Eu não quero que vos aconteça nada de mal. E, já estive a
pensar. Nós vamos para Santarém.
- O quê?! – A minha irmã e a minha
mãe ficaram tolas com aquilo. Eu continuava quieta na minha cadeira, sentada, a
olhar para o meu pai.
- Cristina. Tens algo a dizer? –
Perguntou o meu pai, um pouco surpreendido pela minha não-reacção.
- Eu? Não! Vamos ter de fugir dela
sempre que ela estiver perto não é? Como se fossemos uns artistas de circo, a
mudar o seu lar, para poder sobreviver não é, fugir dos problemas é a melhor solução? Fugir da tua ex-mulher é o melhor não é?! – Dito isto levantei-me, e a
cadeira caiu no chão, fazendo aquele barulho irritante.
- Cristina, não acabamos de falar.
Nós não podemos correr estes riscos, ela é louca, e eu não posso correr o risco
de vos perder!
- E por isso eu vou mudar mais uma
vez a minha vida? Tinha doze anos, quando nos mudamos para aqui, deixei amigos,
deixei lugares, eu deixei tudo por causa de uma doida varrida, não o quero fazer
de novo, quando já tenho vida aqui no Porto.
O meu pai ficou sem dizer, mas
estava chateado. A minha mãe apoiou-me, a minha irmã continuava a olhar para
nós, sem nada para dizer, e não percebia o porque de nos exaltarmos daquela
forma.
- Entendam que o melhor, é sairmos
daqui, eu não quero correr o risco, eu não quero sair de casa sem saber o que
pode acontecer. Eu não quero ir trabalhar preocupado porque a Leticia é louca.
Eu não quero viver assim. - O meu pai já quase nos suplicava a mudança.
- Faz o que quiseres. Estou farta de
fazer tudo o que vocês querem, mas já nem quero saber. Para onde um vai, vão
todos, não é assim. – Já não controlava o meu nervosismo e a minha raiva.
- Tem de ser filha, é o melhor.
- Vamos quando?
- Para a semana, já comecei a tratar
de tudo.
A minha mãe ficou parada e não disse
nada, não me apoiou não me ajudou, a Gabriela entendeu aquela fugida como umas
férias ou algo do género. Eu não acreditava na mudança que viria a viver.
10 comentários:
gostei imenso <3
Muito bonito (:
(como meteste a imagem do gatinho em vez daquele B do blogger?)
Obrigada (:
Pobre Cristina, continua a escrever, quero saber o que vai acontecer.
Gostei muito! x)
Eu sei... Mas eu rotulei-o de mau por não ter acabado bem x)
Pois, eu acho uma piada doida. Uma pessoa cansada vem para casa ou então está simplesmente de FÉRIAS (o que é sinónimo de diversão e descanso) e simplesmente leva com os emplastros dos vizinhos que não sabem distinguir o que é a privacidade dos espaços comuns.
Olha, tal e qual como o titulo do teu blog: PRIVACIDADE PUBLICA! ;)
Gostei muito :)
Ai tão girooooo :)
Ai tão girooooo :)
Enviar um comentário